Como é ser mãe?

Desde o dia 9 de Agosto que há sempre alguém a fazer-me esta pergunta. Eu respondo sempre, com aquele ar atoleimado que deduzo ser típico, um entusiasmado «é maravilhoso!!!». Mas é tempo de me debruçar numa resposta mais alongada, porque de certo a tua curiosidade não se deve satisfazer com essa facilidade, minha querida Pipoca....

Bem, vamos por partes.


O que eu imaginava antes de nasceres tinha tanto de entusiamo como de terror, puro e simples! Muitas vezes acordava a meio da noite (ainda grávida, entenda-se) e ficava a pensar... «oh meu deus, e se eu não souber dar conta do recado?», «e se ela adoecer e eu tiver de passar metade da minha vida a caminho de médicos, sem vida pessoal, sempre aflita e preocupada?», «quando é que vou poder voltar a ir ao cinema?», « e se ela não gostar de mim?»... como vês... esta cabeça não parava! O que vale é que era por uns breves minutos durante a noite e assim que o sol nascia, renascia a esperança e a vontade de te conhecer, no matter what! Acho que até ao ultimo momento, um certo desassossego acompanhava o meu estado de espírito. E não me lixem... não há mãe nenhuma que não tenha tido pensamentos egoístas durante a gravidez, que não tenha tido medo e dúvidas, por muito desejado que tenha sido o bébé! Não acredito!


No dia em que nasceste, quando finalmente no quarto, olhei-te deitada na tua caminha ao meu lado, pensei: «Bolas, é mesmo linda!!!». E depois pensei: «Ufa, agora é a sério, caraças!!!» Aí admito, chorei a primeira lagrimita de felicidade (e olha que eu acho que isso em mim é novidade, a felicidade nunca me deu para chorar mas sim para rir, rir muito!). Foi coisa discreta e algumas más linguas até são capazes de dizer que foi da anestesia e tal, mas eu sei que não, filhota. Eram pura felicidade!!!


Ainda na maternidade devo confessar que não me sentia assim verdadeiramente tua mãe. É estranho e passo a explicar: parecia mais que me tinham colocado um bébé qualquer nas mãos e dito: «Agora desenrasca-te! Ele come de 3 em 3 horas, o banho é dado assim, as cólicas aliviam-se assado, tens de lhe mudar a fralda com frequencia e... boa sorte!». Sentia-te uma espécie de Tamagochi, e que, ainda por cima, toda a gente sabia cuidar melhor de ti do que eu!!!


A cada berraria tua eu pensava:

1. ESTOU A FAZER TUDO MAL


2. SOU A PIOR MÃE DO MUNDO


3. ISTO EM CASA SE CALHAR ERA MAIS FÁCIL.


ODEIO HOSPITAIS.


Mas como 7 dias ainda é tempo, no final da semana ainda não era bem tua mãe mas já era uma espécie de guarda-costas do teu bem estar, sempre empenhada em zelar pelo teu sono e descanso. Nunca vou esquecer das mentiras que pregava ás enfermeiras só para não ter de te acordar: «Mãe, a menina tem o saco de recolha da urina posto?». E eu pensava: se eu disser que me esqueci de pôr elas vão fazer-me mudar-lhe a fralda para isso... «Sim, tem! Mas nunca consigo que ela faça xixi lá para dentro, que chatice!». Foi giro, no último dia no hospital, já sabia que estava tudo pronto para teres alta e ainda faltava a porcaria do xixi! Como choravas desalmadamente sempre que te mudava a fralda, muitas vezes acabava por me esquecer de te colocar aquela treta, que ainda por cima achava que te devia incomodar, tal era a forma como o teu choro me deixava aflita.


Bem, entenda-se que eu estava cansada e debilitada pela cirurgia e pelo esforço daquela madrugada, contrariada por não te poder levar para casa, enfim... stressada!



Assim sendo, no dia em que passei as portas do Hospital Fernando Fonseca contigo nos braços, senti um enorme aperto no estômago. AGORA É QUE É... SEM REDE! Nessa altura eu era a forma mais primitiva de uma mãe, a tal guarda-costas do bem estar...ehehehe!


Já em casa, contigo, aprendi que ser mãe é SABER SEMPRE o que é melhor para ti, confiando no instinto. E só á medida que o fazemos, que nos libertamos do peso do "fazer tudo bem", que vamos vendo os nossos esforços resultarem, que vamos sendo recompensados com sorrisos de satisfação durante o sono e choradeiras cada vez mais curtas, é que vamos começando a associar a nós proprios a ideia que temos do que é ser MÃE. Acredito que só não me senti mais tua mãe desde o primeiro dia porque a imagem que tenho de uma mãe não se coaduna com a insegurança, a falta de jeito e a postura stressada que, sem querer e naturalmente, assumi nos teus primeiros dias de vida...
Agora sou tua mãe porque conheço-te as birras e as manhas, porque te sossego com o meu colo e a minha voz, porque sei que me reconheces no meio de uma multidão, porque te amo e vivo para te fazer sentir bem e feliz, porque vibro com cada aprendizagem tua, porque me stresso se não bebes o biberon até ao fim ou se estás constipadita... porque cada vez que sorris eu sinto-me a pesssoa mais feliz do mundo!!!
Como é ser mãe?! É maravilhoso!!! Eheheh!

Hospital Central e Camas com Picos!!!!


Se eu recebi incontáveis DEZENAS de conselhos e li outras tantas opiniões contaditórias, só posso - E SÓ SE ME PERGUNTAREM - dar UM conselho aos papás que se confrontam pela primeira vez com as exigências de um recém-nascido: Sigam o instinto! Só os pais sabem o que é melhor para os SEUS filhos!!!


Passo a explicar, minha querida Pipoca...


De regresso a casa, as tuas primeiras semanas de existência foram passadas na nossa companhia quase exclusiva. O pai tirou 3 semanas de férias que juntou aos míseros 5 dias da licença. Aproveito, desde já, para protestar que o idiota que achou que 5 dias eram mais do que suficientes devia morrer sozinho, sem filhos nem parentes, num lar de 3ª idade qualquer... deve dar muito pouca importância à família, o senhor... hum. Adiante... Tu dormias horas infinitas durante o dia e as noites (como convém a qualquer recem-nascido que se preze!) eram o palco preferido das tuas actuações energicas! Eheheh!


Cólicas? À noite. Fome? Só durante a noite. Necessidade de colo, carinho e protecção? Noite.


Caramba, mas será que vocês carregam as baterias com energia solar para descarregá-las assim que o sol se põe???


Tu, apesar de pequenina, eras moça de muito sustento, por isso mamavas de 2 em 2 horas... Em dez minutos estavas despachada e adormecias toda enroladinha no meu peito. Durante o dia, agitavas-te um pouco porque ficavas maldisposta mas era possivel colocar-te na espreguiçadeira a dormir, assim que tudo normalizava. Por pouco tempo mas sim, dormias. Á noite??? Adormecias á mesma depois de comer, ficavas no colo muito sossegadinha, ás vezes um bocadinho na espreguiçadeira, mas assim que tentávamos a aproximação á tua cama...


BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!!! MÃE, PAI, SOCORRO!!! A CAMA TEM PICOS!!!


Oh, meu amor! As poucas vezes que conseguimos que por alguns largos minutos lá ficasses, foi com o uso de algumas artimanhas desesperadas, como adormecer-te na espreguiçadeira e depois colocar a espreguiçadeira contigo lá dentro! Mas assim que abrias os olhos e te davas conta... hihihi! Gritavas furiosamente com a indignação de um atraiçoado e nada a não ser a mama te sossegava... Eram horas a fio ao colo pela casa toda, madrugada a fora. 6h30, 7h00 lá estava eu, contigo nos meus braços, os olhos inchados e pesados, de frente do televisor a tentar distrair o sono com os episódios da popular série espanhola Hospital Central. Durante 2 ou 3 semanas, todos os dias, fomos espectadoras assíduas desta novela...! Hihihi!


E depois eram as horas intermináveis na mama, sempre que as crises de choro eram mais intensas... não havia hipótese! Eu chegava a adormecer contigo na mama. De cada vez que tentava tirar-te era uma berraria sem explicação! Se te queria sossegar era assim.


Quando o teu pai regressou ao trabalho, houve noites que dormimos na sala, porque a mãe preferia ter televisão para se distrair, houve noites que dormimos na cama, todos 3. E foi assim que começaste por dormir conosco, entre nós, onde te sentias bem e protegida...


Depois começou a chuva de conselhos:


«Olha que ela não pode estar sempre na mama, só pode estar o tempo de se alimentar...!!!»

«Não a podem habituar a dormir só no colo...»

« Ela tem é de dormir na caminha dela!!!»

«É perigoso dormir na cama dos pais!!!»

«Pois, se ela chora muito se calhar tem fome, é melhor pôr na mama...»

«O banho é melhor á noite...»

«O banho é melhor de manhã!»

«Não a habitues a adormecer na tua mama...»

Blah, blah, blah....


Bem, e quanto mais tentávamos contrariar as tuas vontades pior ficava o cenário... Até que...


Eu e o teu pai assumimos que dormirias conosco sempre que quisesses, eu assumi que, por muito que me custasse, ficarias na mama o tempo que precisasses para sossegar (e batemos recordes de 4h, ehehehe!), que no que dependesse de nós chorarias o menos possível!!!


Eu acho que o nosso instinto é o nosso melhor conselheiro. Há que escutar o que a criança precisa, dar-lhe quando ela precisa, não pensar a longo prazo. Um recem-nascido tem de aprender a confiar no mundo, nas pessoas, nos pais acima de tudo! E só vai confiar quando perceber que não é ignorada. Como poderias compreender que não te podia por na mama, onde te sentias bem, porque os "especialistas" não aconselham??? Ou que eu e o teu pai não te deixavamos dormir conosco porque tinhamos receio de que nunca fosses capaz de dormir na tua cama??? Inclusive, no primeiro mês, cheguei a arriscar uma "dermatite da fralda" muitas vezes, porque preferia que continuasses a dormir descansada a trocar-te a fralda e a despoletar outra choradeira. O banho nunca era dado á noite, ao contrário das opiniões gerais, porque não te tranquilizava e era uma tormenta para ti... e até houve muitos que ficaram por dar, em prol do teu bem estar emocional!!!


EU SÓ QUERIA QUE ESTIVESSES CALMA, SOSSEGADA, TRANQUILA, EM PAZ, A DORMIR em qualquer lado E A COMER!!! Era isto que eu sentia importante para ti!


Moral da História:


Hoje com três meses, só choras quando tens cólicas ou estás rabujenta, sossegas com facilidade no meu colo ou no colo do pai, és muito bem disposta e divertida, dormes a noite inteira na tua cama e já adormeces sozinha, a mama foi substituida sem dramas pelo biberom! E não fosse o facto de seres um "pisco" e não haver meio de ganhares peso que se veja, eu poderia dizer que és um bebé sem problemas! Muito cool, esperta, vivaça, simpática! Nem uma febre ou um susto que fosse até hoje! Acho que finalmente percebeste que podes contar conosco para te sossegar, para te aliviar as cólicas, para te fazer companhia e brincar contigo, para te alimentar e, por isso, não achas mais necessárias todas aquelas gritarias e adormeces na tua caminha, confiante de que o pai e a mãe estão sempre lá, basta chamares um bocadinho... E de manhã lá te vamos buscar quando o fazes (geralmente basta "tossires" um bocadinho!Eheheh!) e tu com os olhinhos bem abertos agradeces com um sorriso que ilumina o dia como sol algum seria capaz de o fazer!!!

7 Dias muito difíceis...




Não é á toa que escolhi esta cor para escrever. Verde, cor da esperança, pois foi com esperança de te levar para casa em breve que vivi todos os momentos que sucederam ao teu nascimento.


Nasceste com 2,735 Kg e 46cm. Muito pequenina, linda, com uma boquinha e um narizinho muito pequeninos e perfeitinhos, muito bochechuda! A cara do teu pai, sem sombra de dúvidas!

Um feitio muito peculiar... Durante o resto do dia 9 e a madrugada seguinte, parecias um anjinho muito sossegado, a dormitar no teu bercinho, tal não devia ser o cansaço da noite atribulada... Eu tinha dores, estava cansada e atordoada da anestesia. A melhor visita de todas foi a do teu pai, ao fim do dia... estava muito orgulhoso pelas parecenças, os olhinhos brilhavam apesar do cansaço que também ele sentia!

Nesse mesmo dia houve umas dificuldades com a amamentação que me tinham deixado irritada e o teu pai, com paciência, ajudou-me a superar. Aliás, em todo o tempo que estivemos no hospital só o teu pai me transmitiu segurança, calma, serenidade e força para aguentar as dificuldades. Amamentar-te não foi fácil, apesar da vontade, por causa das dores da cicatriz e da tua boquinha muito pequenina e desajeitada e de um mamilo de silicone que até hoje não sei se veio ajudar ou atrapalhar! Devo á insistência das enfermeiras do serviço o facto de nunca ter desistido, porque não foi nada fácil!!! Inclusivé até perceber que o primeiro leite - colostro - é incolor como a água, andei ali "ás aranhas"!!! Tu foste exemplar, porque também nunca desististe de procurar no meu peito o teu consolo e isso foi muuuito importante... Foi assim que conseguimos juntas a nossa primeira vitória!!!
Mas no teu segundo dia, que para ti começou com o primeiro banho, reveláste uma energia e um temperamento muito pouco angelical, ehehehe!!! O banho foi um berreiro sem explicação, a força com que agitavas braços e pernas qualquer coisa de impressionante até para os pediatras que te observaram logo depois, cada fralda que te mudava era uma gritaria que começava com a primeira peça de roupa despida e só terminava com colo ou mama, e assim que cumpria com o requisito dos 20m no peito e te deixava no berço para ir buscar o "suplemento lácteo" logo começava outra choradeira inconsolavel... à hora das visitas, e quando o pai chegava pelo meio dia, dormias placidamente como um anjo que enternecia qualquer pessoa... a mim e ao teu pai principalmente! As noites e as manhãs foram pesadelos para mim... de solidão, de dúvidas, de desespero, tu choravas muito, eu achava sempre que era fome (ou pior, havia sempre alguém que me dizia que era fome...!) e não conseguia ajeitar-te sozinha para te amamentar e os 30ml do biberon só podiam ser-te oferecidos a cada 4h. Tinha dores, e sentia-me desamparada... As manhãs, com as rotinas do banho, visita ao pediatra, medicação, análises ao sangue, e etecéteras, que roubavam o sono que finalmente te sossegava depois da noite agitada, eu sentia-as como uma violência infame, um atentado à tua paz de espírito! Chorei muitas vezes de desespero mas consegui manter a calma muitas outras mais... uma semana num hospital com um recem-nascido que se está a querer conhecer é quase tortura chinesa para uma mãe!!!
Foi giro, apesar de tudo... Uniu-me a ti de uma forma que teria sido, quem sabe, menos intensa se tivessemos vindo para casa ao fim de 2 dias.
Eras conhecida por algumas enfermeiras como a "piolha com mau feitio"... hihihi!
O antibiotico que estavas a fazer por causa de uns parâmetros de infecção terminou e as tuas análises revelaram que estavas bem, com um bocadinho de icterícia, muito mau génio e umas ternurentas posições a dormir que nunca vou esquecer e das quais já começo a ter saudades...
Não sei se aquela história do amor infinito que a mãe sente logo pelo seu filho assim que o vê é verdadeira para todas as outras mães. Eu não sou hipócrita, não te amo hoje da mesma forma que te amava no dia em que fomos apresentadas... o meu amor por ti foi-se construindo a partir de uma infinita e cada vez mais urgente necessidade de te proteger e cuidar. É hoje muito mais intenso do que nunca, começo a senti-lo mais recíproco e toda a beleza disto de ser MÃE vem daí... da reciprocidade, do reconhecimento, da partilha, da necessidade, da comunicação.
Fazes hoje 3 meses e o dia em que a minha vida mudou para sempre tinha de ser registado em palavras que mais tarde pudesse partilhar contigo, quando a memória apagar detalhes para sublinhar emoções...
PARABÉNS pelos 3 mesinhos, minha querida Pipoca!






DIA 9 DE AGOSTO DE 2007!!!


Estava previsto que nascesses a 13 de Agosto. Uma semana antes de nasceres eu fui fazer o CTG da rotina semanal no Hospital e já tinha 1cm de dilatação. A médica disse logo que nascerias antes do previsto! Fiquei contente, claro, já tinha muita curiosidade de te conhecer.


Na noite de quarta-feira, dia 8, fomos, como de costume, jantar a casa da avó Celeste e do avô Narciso... eu já me tinha sentido estranha o dia todo... uma moinha nos rins. Durante o jantar começaram as contracções, indignas desse nome. Eram mais "descontracções", porque eu já brincava e ia mentalizando o teu pai de que ias nascer em breve. A avó Celeste disse logo que daquela noite não passava... A frequencia entre elas foi aumentando.


Em casa, deitei-me ao lado do teu pai, na cama, para tentarmos descansar um pouco. Comecei a controlar os minutos entre cada uma delas. De mão dada com o pai, apertava com mais força quando elas vinham, cada vez mais dolorosas. Já não eram "descontracções" quando decidi que estava na hora de ir para o hospital... ehehe!


Eram umas dores intensas nos rins!!! Caramba, sempre me tinha imaginado agarrada á barriga, não aos rins!!! Afinal de contas o que é que os rins têm a ver com a história??? Uma pessoa sente-se mais uma velha com uma crise renal do que uma mãe prestes a dar á luz!!!


O pai levou-nos ao hospital e a tia Guida e o tio Tiago vieram lá ter logo depois. Eram 2 da manhã. Estive a fazer o CTG e fiquei um bocadinho apreensiva porque tu não te mexias muito... e logo tu, meu amor, que em todos os CTG's que fiz ficava impressionada com os pontapés vigorosos que davas nos elasticos!!! Até saíam do sítio!!! Tive de comer um rebuçado e tudo... Tinha á mesma 1cm mas muitas e já um pouco dolorosas contracções. Acabei por ficar e já só estive com o teu pai por breves instantes no corredor, antes de vestir a bata verde, para lhe entregar objectos pessoais.


Sempre achei que era melhor para ele não assistir ao desenrolar dos acontecimentos, ele próprio não queria muito. Mas naquele momento, fiquei triste por abandoná-lo! A tia Guida compensou logo isso... Ajudou-me a fazer a higiene e a vestir a bata, com o desembaraço da execelente profissional de saúde que é!


Na cama, foste monitorizada pelo CTG e puseram soro a correr. Deitada, e com o passar das horas as dores foram-se tornando horríveis e as contracções cada vez mais difíceis de controlar com a respiração e a calma. Mas o meu optismo nunca me abandonou, querida pipoca! Inclusivé uma enfª velha e rezingona veio lá resmungar que eu não podia estar de barriga para cima (que era como eu suportava melhor as malditas facadas nos rins...) e eu lá obedeci, em nome do teu bem-estar, acima de tudo.


A tia Guida foi a pessoa mais importante da noite, uma companheira inesquecível e incansável, que me ajudou a manter a calma e a canalizar as forças, que me distraiu sempre com a ilusão de que estavamos cada vez mais perto do grande momento, contracção após contracção. As coisas já não estavam a correr bem, eram 6 da manhã, e a tia Guida percebeu logo, mas nunca me deu a entender nada e eu estava convencida que estava cada vez mais perto do momento em que nos vinham buscar para o bloco de partos e que estava tudo a correr lindamente!


Até que eram perto das 9h quando um batalhão de médicos e afins entraram pelo quarto adentro e, sem pedir licensa, me rebentaram ,de uma forma inesperada e bruta, a bolsa das águas. Fiquei perplexa por uns segundos, sem perceber o porquê daquele procedimento, até que ouvi da boca do médico uma palavra terrível e que eu, grávida informada como sempre fui, sabia implicar um desfecho que me desagradava: "mecónio". Meu anjo, tu, como qualquer bébé em sofrimento na barriga da mãe, alivia o intestinito no líquido amniótico. É um sintoma de sofrimento fetal, e é perigoso porque o bébé ingere e inala esse líquido sujo... Antes de o médico dizer que ía para o bloco operatório, eu já ouvia na minha cabeça a palavra CESARIANA... No caminho chorei. Porque estavas a sofrer, porque tinha sonhado com um parto normal e sabia que seria capaz de o aguentar com optimismo e força. Aliás, as minhas dores eram, naquela altura, verdadeiramente insuportaveis porque as contracções já não tinham grande intervalo. O problema era que a força delas empurrava-te contra uma saída que estava fechada: não fiz mais que 4cm de dilatação em tantas horas de sofrimento! Que injusto...


A anestesia que me deram, uma tal de Raq, deixou-me mal... tremia muito, tinha frio, senti tudo (excepto dor, claro está) e estava triste porque sou teimosa e queria ter sido eu a ajudar-te a chegar a este mundo e não que um bisturi e as mãos de um médico o fizessem por mim! Até nisto se vê como eu sou orgulhosa e teimosa, habitua-te já!


Mas vi-te passar pequenina e silenciosa, antes de te aspirarem as vias aéreas. Tinhas muito cabelo, pensei eu! Passado uns breves minutos ouvi-te chorar finalmente!!! Queria tanto sentir-me bem para te acolher mas estava tão desconfortável e fraca quando vieste por 30 segundos deitar-te ao meu lado... Acho que não aproveitei o momento, desculpa. Sentia-me frustrada, cansada, tremia sem conseguir parar...


A tia Guida esteve sempre lá... é enfª e ela olhou por ti melhor do que eu o faria naquele momento, sem dúvida. Ela viu-te nascer e ligou-se a ti de uma maneira muito especial! No meio de algum azar, tivémos muita sorte, querida Pipoca!


ERAM 9h18m DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007.


O 9 é o teu número, sem dúvida!!!








Do resto ao Dia D...

De entre o espaço de tempo desta eco e da notícia que eras muito pequenina, decorreu um período de baixa médica, razão pela qual deixei de te escrever meu amor; deixei de vir trabalhar o dia todo...! Há bons empregos de facto... Hihi!!!

Mas bem sabes que vivi as últimas semanas com muito boa disposição, sem medos, entretida com as séries da FOX e do AXN e a bijuteria que gosto tanto de fazer. Aliás, tu nasceste numa quinta-feira, e no sábado anterior eu e a tua tia Carla corremos a pé lojas dos chineses de Entrecampos ao Saldanha, á procura de material para a nosso artinasat... Ehehehe! Como vês, eu sentia-me super bem! Aliás, verdade seja dita, gostei muito de estar grávida e nunca cheguei a ficar "farta" e ansiosa. Para o fim estava um bocado preocupada com o teu peso e com a minha diabetes que ainda por cima de impedia de comer aquelas coisas que te podiam saber bem... Mesmo assim, acho que hoje em dia és gulosa porcausa de tanto açucar que eu ingeri!!!

Tenho muitas saudades da minha barriguita... agora olho com alguma nostalgia e muita simpatia todas as grávidas que se cruzam no meu caminho. E gosto de saber que um dia também vais poder viver esta mágica experiência, meu amor!