«Se pudesse matava o bicho a rir!»

António Feio
Querida, Pipoca...
Este blog é para ti, sobre ti, sobre nós. E à primeira vista, achei desenquadrado falar aqui de um acontecimento estranho, quase alheio, à nossa vida. Mas depois concluí facilmente que ontem faleceu uma pessoa que mesmo estranha e alheia à minha vida particular, não é estranha a mim mesma. Porque quando se é, como António Feio o foi, um símbolo da boa disposição, do humor, da arte, do teatro, da humildade, do profissionalismo, da vida, não se pode ser assim tão estranho e alheio, tão distante ou tão figura, que não mereça uma referência num blog pessoal.
Este senhor, Pipoca, foi um marco da minha juventude. Dificilmente esquecerei que a primeira vez que o teatro me pareceu perto de mim foi quando assisti ao Conversa da Treta. Até lá, e com alguma pena minha, o teatro era uma experiência com a qual não me identificava, calculo que por não ter eu mesma a sensibilidade para o entender, por achá-lo sempre demasiado teatral (que redundante!), forçado, excêntrico, exagerado... demasiado subjectivo para a minha persistente objectividade. Na peça A Arte (peça de teatro do António Feio e do José Pedro Gomes), António Feio dá vida a uma personagem que vê num quadro branco Arte... e esta peça ironiza a subjectividade e a objectividade na arte, na cultura, de uma forma excepcional.
António Feio, assumiu-se sempre um defensor do teatro para as pessoas, para a maioria das pessoas, e tem, por isso, para mim, um mérito indiscutível. Por cá nunca se esquecerá Amàlia, José Saramago, internacionalizadores da cultura portuguesa. Eu... por cá, nunca esquecerei António Feio, nacionalizador da cultura, homem de Portugal e em português, que nunca ambicionou mais que fazer rir o maior numero de pessoas, levar o maior numero de pessoas a esse local quase estrangeiro que é o teatro, satirizar e brincar com os problemas, a sociedade, a vida.
Escolhi este título para o post, que é a minha humilde homenagem a António Feio, porque são palavras dele numa entrevista recente com Judite de Sousa, na RTP. O bicho foi a neoplasia do pâncreas que o levou tão prematuramente, aos 55 anos. A rir... espero. E escolhi esta foto na pesquisa do Google (já a tinha visto na televisão) porque ao olhar para ela vejo um António Feio que nunca conheci (provavelmente eu era um bébé, na altura em que foi tirada). Um pai. Um ser humano. E não duvido que a perda maior seja essa: a do ser humano.
Pela minha parte... a perda foi cultural. Perdi uma das razões que me levaram (e levaria ainda) ao teatro. Mas como não quero desvirtuar a missão deste actor, fica prometido que em breve, Pipoca, voltarei. Quem sabe contigo!
António Feio,
até sempre

1 comentário:

Anónimo disse...

Até sempre... no teatro em sua homenagem!!!!