Ring... the Bell ou a História da Cultura e da Humanidade




O jornal norte americano Washington Post, com o objectivo de estudar sociologicamente os comportamentos face á cultura, ao espaço desta e á forma como se aprecia a cultura, levou Joshua Bell (um dos mais talentosos e famosos violinistas do MUNDO!) a uma estação de metro, para tocar, peças de Bach, Schubert e Ponce...
Dias antes, este violinista havia tocado no Symphony Hall em Boston, concerto pelo qual as pessoas pagaram mais de 100 dólares pelo bilhete mais barato, num espectáculo que esgotou a plateia.
Joshua Bell tocou, dentro da estação, para um público absolutamente indiferente durante cerca de 45m, não tendo conseguido captar a atenção de ninguém por mais de 5m e angariado a modesta quantia de... 32,17 dólares!
Excepção feita para... as crianças, as muitas que passavam e que nunca se mostravam indiferentes, impedidas pelos pais de permanecer muito tempo a escutá-lo! A este propósito o referido jornal, referiu que: «pode indicar que todos nascemos com poesia e esta é depois, lentamente, sufocada dentro de todos nós». Só as crianças souberam reconhecer a beleza daqueles acordes, excelentemente interpretados!
Ora... duas coisas: interpretamos e apreciamos a beleza e a cultura, mas apenas se elas nos forem apresentadas como tal (?), nos locais proprios e adequados, em artistas reconhecidos (como se não existissem talentos desconhecidos e se os actualmente famosos não tivessem sido já aspirantes á procura de visibilidade...), como se a beleza, a poesia e a cultura, não pudessem ser apenas aos nossos olhos e ouvidos reconhecidas; e depois, as crianças, sem as urgências da vida, os preconceitos e os gostos toldados pelo social, são as que melhor reconhecem a beleza, que mais atenção dispensam ao que não é mundano e que se deixam guiar pelos sentidos, conservando a capacidade de ignorar a razão que tanto interfere com a contemplação destas manifestações culturais.
Outra coisa: gostava muito de vir a saber cultivar em ti o gosto pela contemplação do que achares mais belo. Que não tem de ser um Avé Maria ou um Chaccone pelas mãos de Bell, ou um Apolo e Dafne de Bernini ou o tecto da Capela Sistina de Miguel Ângelo. Pode ser qualquer coisa. Contando que saibas parar para a contemplar, com curiosidade e apelo, com admiração e tempo, com os sentidos todos e uma vontade de fotografar essa beleza para sempre... Porque culto não é quem se gaba de assistir a Bell no Symphony Hall em Boston, mas as crianças que pararam para aprecia-lo no Metro de Washington...
E para te proporcionar esta aprendizagem... terei também eu de cultivar em mim a capacidade de ouvir a beleza? Sim. Mas estou certa porém que Bell não me teria escapado se tivesse tocado antes no Metro do Saldanha... não é a primeira vez que me detenho a ouvir um violino, no meio da rua, e sem pudores. Ai se tivesse podido ouvir aquele Stradivarius caríssimo que Bell, qual pérola, atirou a porcos naquele palco tão subtil... quem me conhece sabe como adoro violinos!

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