Oh Tempo, volta p'ra Tras...


Nas minhas incursões pela net e pelos inúmeros foruns sobre bébés, fui lendo imensas coisas sobre a alimentação deles e principalmente sobre a amamentação. Dei-me conta de alguns erros que cometi contigo e que espero me sirvam de lição para um futuro irmãozinho, Pipoca.


Ficam as minhas conclusões, inclusivé para ajudar (se possível) a tua tia Ana e a Carla, que hão-de se ver, em breve, a braços com esta enorme tarefa que é alimentar um bébé...


Primeiro, há que decidir se queremos mesmo amamentar. Eu sabia que o desejava e enquanto estava grávida sempre alimentei o sonho de te ter no meu peito assim que nascesses, o que não foi possível, como já sabes, por causa da cesariana. Depois há que teimar nesta vontade até ao limite dos impossíveis e explico porquê.


Tu nasceste com 2,735 kg. Até não acho que seja pouco peso. Na consulta do 1º mês, fixaram o teu percentil no 5 e, para uma mãe que olha pela primeira vez para o graficozinho do Boletim de Saúde, fica inevitavelmente a pensar que alguma coisa correu mal durante a gravidez mas enche-se daquelas frases que foi ouvindo os outros dizer:«Deixe lá, o meu filho também nasceu com pouco peso e aos 2 meses já pesava 4Kg e hoje em dia é bem gordinho!» e acaba por colocar todas as esperanças no leite. A frustração das espectativas piora consideravelmente quando o único alimento é o NOSSO leite. Não sabemos qual a quantidade que bebem, o apport calorico do leite, se com a nossa alimentação estamos a produzir um leite suficiente...


Considero que tenho sido uma mãe descontraída e despreocupada, porque te vejo activa, brincalhona, feliz. Mas um recém-nascido não faz muito mais do que comer e dormir e, no meio de idas semanais ao centro de saúde, á consulta de enfermagem para te pesar, não consegui deixar de me alarmar quando aos 2 meses já não estavas a ganhar peso ao ritmo de até então... Logo os pensamentos inevitáveis sobre a tua saúde. O Dr. Velho, é um facto, nunca ligou muito ao teu suposto baixo peso. Aliás foi pediatra do teu paizola e conhece-lhe a matéria genética, como digo, a brincar. Sabes como ele é magro. Nenhum de nós os dois tem mais de 1,68. Eu própria sou mais gorda porque sou mulher e acumulo gordurinhas naqueles sítios horríveis como a barriga e as coxas... De resto a minha cara é miudinha como a de uma cachopa de 16 anos! Porque raio haverias de ser um bébé de percentil 50?!


Pois, mas se ao mesmo tempo os profissionais de saúde desdramatizavam o problema do peso, também não hesitavam em bombardear-me com conselhos sobre como te fazer comer mais! Ao nível do inconsciente fui começando a desejar que a fase da mama terminasse, e que eu pudesse saber afinal o que bebias de leite e que leite, e fui começando a fraquejar na intenção de te amamentar. Que burra fui. Acabei por introduzir o suplemento, que rapidamente passou a refeição completa e o meu leite secou. E hoje, com papas ao pequeno-almoço e sopas ao almoço e jantar, lanches ás 16h e ás 18h e ceia ás 24h percebo que não poderias comer melhor e que o teu percentil nunca poderia ter sido outro. E além disso, para quê? Não trocava o teu percentil 5 por um 50, se fosse para teres adoecido nestes ultimos 7 meses, coisa que nunca aconteceu. Não impede que ainda vás ter muitas constipações e viroses e febres, nos próximos 7 meses. Não interessa. Até aqui foste sempre saudável e isso, por si só, já valeu a pena. Atenua um pouco o meu remorso por não te ter amamentado em exclusividade até aos 6 meses como era meu desejo...


Além do mais, não percebo a inconsciente obsessão por bébés grandes e gorduchinhos... Será a mesma questão de estética que leva mulheres a desenvolver disturbios alimentares, mais tarde, por quererem ser magras? A sociedade pressiona pais a engordarem bem os seus filhos, para mais tarde os estigmatizar por serem gordos? Parece-me cruel... o que achas, meu anjo? Hum...


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