INVENTEM-SE NOVOS PROFESSORES!





O post de hoje é uma reflexão minha sobre uma polémica que assombra a actualidade política e social do momento: a violência nas escolas. Na semana passada, foi tornado público um vídeo filmado durante uma aula, numa escola no Porto, no qual uma professora, que ao querer tirar um telemóvel a uma aluna que fez (ou atendeu) uma chamada em plena sala de aula, se viu a braços com um problema grave de indisciplina. A aluna resolveu indignar-se com isso e começou a disputar com a dita professora o referido objecto. Muito pouco bonito de se ver: uma puxava para um lado, outra puxava para o outro... a miúda de 15 anos estava histérica, a professora em apuros. Em apuros porquê? Porque se viu vítima de uma crise de autoridade.


Antes de mais, sou obrigada a lamentar a atitude infantil da professora: nenhum adulto deve descer ao nível de uma criança ou adolescente e insistir em disputar seja o que for com ele. A professora, assim que a miúda lhe gritou a exigir o telemóvel de volta e a chamá-la de estúpida, apenas deveria ter ordenado que levasse o telemóvel com ela e que saísse da sala de aula, imediatamente! Depois, deveria ter accionado os procedimentos disciplinares devidos em sede de direcção de turma e conselho de turma. É assim que deve funcionar.


Depois, acho lamentável que os debates, entrevistas e discussões públicas sobre este assunto, tenham insistido em transformar os professores em vítimas de uma espécie de praga ou epidemia que são as crianças indisciplinadas. Nunca ouvi tamanho disparate! A tendência natural das crianças e adolescentes é serem indisciplinados. Cabe aos adultos de referência o papel de contentores desta tendência. Os adultos são responsáveis por transmitir-lhes segurança pela existência de regras, de disciplina, de autoridade. A reacção desta miúda só foi possível porque esta professora (como aliás, provávelmente, outros professores e a própria comunidade educativa em que esta aluna se insere) lhe fez parecer possível agir daquela forma para com ela, naquela sala de aula. Desculpem-me, os professores, a minha franqueza mas a culpa é deles! O problema está na Escola e na crise da Educação em Portugal. Não me venham com tretas, de que a responsabilidade do comportamento dos alunos é da Televisão ou dos Pais... Indisciplina nas escolas é um problema da Escola. A indisciplina em casa é um problema dos Pais. Assim é que é correcto!


Trabalho num colégio, como sabes filhota. O que talvez não saibas é que já conheci realidades educativas em zonas problemáticas como Chelas ou a EB 2.3 Marquesa de Alorna, com os seus meninos da Serafina... Sei do que falo quando digo isto. De que outra maneira se explica que conheça crianças indisciplinadas e violentas em casa e na interacção com outras crianças e que não o são dentro de salas de aula? Ou o contrário? As crianças moldam-se aos adultos que as rodeiam com uma facilidade incrível e que alguém que não trabalhe com crianças não percebe. Por isso é facil acreditar nos discursos recorrentes de escolas e docentes: «não podemos fazer nada porque o problema é complexo e vem de casa, dos seus meios socias...». A culpa das famílias já conhecemos, mas não é desculpa. Somos desobedientes e indisciplinados com quem nos permite que assim seja. Não o somos com toda a gente. Acredita nisto!


Era necessário reciclar os professores, ajudá-los a desenvolver outras competências que vão para além dos conteúdos programáticos. Já não vivemos no tempo em que a Escola era um privilégio tão grande que até os pequenos reconheciam a sua importância. Nesse tempo ser Professor era herdar um estatuto de autoridade e competência que advinha apenas do facto de se Ser Professor. Agora ser professor é saber conquistar autoridade e competência. Elas não existem por elas mesmas, é um trabalho de construção da profissão. E que nunca se cruze pelo meu caminho um professor que te ensine e que alguma vez me diga: "Desculpe mas só sou pago para administrar conteúdos programáticos!!!". Garanto-te que vai ter muitas chatices comigo!


Tenho pena, sim, que esta seja a Escola que tenho para te proporcionar. Esta Escola de professores desmotivados e incompetentes, de alunos revoltados, indisciplinados e infelizes. A Escola com que sonho, e que seria a base de desenvolvimento de um país evoluído e sólido, está longe disso. Quanto a isto a minha visão é simples: podem fazer todas as manobras políticas e de engenharia económica e social que quiserem. Portugal não vai prosperar enquanto se desvalorizar o papel da Educação na construção dessa mesma prosperidade. A Justiça, a Saúde (até certo ponto, obviamente!) e a Protecção Social servem para remediar os problemas que os fracos investimentos na Educação (em 1º lugar) e na Economia (como área muito dependente daquilo que o Sistema Educativo produz) têm criado no nosso país, eu diria há mesmo umas boas dezenas de anos...


Daniel Sampaio, um nome de referência para mim, enquanto pensador das questões ligadas ás crianças e jovens e á educação, tem um livro muito bom (tem vários mas para o caso interessa-me este) que se chama «INVENTEM-SE NOVOS PAIS». Eu cá acho que está na altura de exigir: «INVENTEM-SE NOVOS PROFESSORES»!

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