Ser ou não ser...


Já acabei de ler o livro. A dada altura, ainda no decorrer das investigações sobre o desaparecimento da miúda, desinteressei-me do caso. Eram tantas e tão contraditórias as informações veículadas pela imprensa, o espectáculo mediático tão desconcertante, que deixei de ter opinião. Tudo pareceu sempre tão complexo e descabido que não era possível continuar interessada... mas a curiosidade sobre os factos levou-me a comprar este livro e a lê-lo até ao fim.

Para que saibas, esta menina de 4 anos, de origem inglesa, desapareceu numa noite, do quarto onde dormia com os irmão gémeos de 2 anos, enquanto os pais jantavam com um grupo de amigos num restaurante a 100m do respectivo apartamento, no decurso da sua estadia de férias, na Praia da Luz, em Lagos. As investigações duraram meses.

Desta leitura aqui ficam as minhas impressões:

1º A nossa polícia não tem procedimentos de rotina estipulados para investigar casos que envolvam este tipo de desaparecimentos: fica-se com a impressão que não estamos culturalmente preparados para tratar com naturalidade e desde o primeiro momento hipóteses que envolvam a responsabilidade directa dos pais. Daí que os pais da Maddie tenham conseguido ter tido sempre influência directa ou indirecta, intencional ou não, no decurso das investigações.

2º É inequívoco que o testemunho da amiga do casal que deu lugar á investigação da tese do rapto serviu os interesses dos pais da menina, certamente preocupados em ocultar a morte da Madie. Ela morreu: disso não podem restar dúvidas depois de chamados a intervir os cães treinados (um para farejar odor de cadáver, outro para detectar a presença de vestígios hemáticos - sangue). Ambos assinalaram estas presenças nos mesmos locais: o carro, alugado 20 dias depois do desparecimento, e atrás do sofá que existia junto a uma janela no apartamento de férias do casal. Para que se saiba, estes cães já ajudaram a desvendar crimes muito complexos.

3º É horrivel que as autoridades britânicas tenham colaborado de forma ostensiva com os pais da menina na ocultação da verdade. Médicos influentes ou não, a verdade é que a história trágica daquela criança não pode ser descoberta e contada. É triste que uma criança tão pequena tenha desaparecido assim e, de repente, a sua vida ter começado a valer apenas o espectáculo, a quantidade de dinheiro envolvida em fundos de buscas, os programas televisivos, a desgraça dos pais...

Considerações culturais e sociais á parte, não acho natural uma mãe sedar os filhos para poder ir divertir-se com marido e amigos (facto não provado mas que só assim explica como os dois gémeos dormiam placidamente nos seus berços enquanto a algazarra se instalava no apartamento depois de dado o alerta), voltar a abandonar dois filhos sozinhos enquanto volta ao restuarante para pedir socorro, passear-se em frente a câmaras de televisão diariamente, alimentando boatos, rumores, informações contraditórias. Hoje sou mãe e tenho a certeza: não se comportou como mãe a quem desapareceu um filho, que acredita nas mãos de predadores. Nunca se confrontou verdadeiramente com esse medo. Nem no momento em que os deixou sozinhos (porque o fez), nem depois (porque alardeou tanto essa possibilidade que transformou a própria filha num alvo a abater - que raptor arriscaria ter consigo uma criança tão conhecida?). Talvez porque saiba que a Maddie morreu em consequencia de uma queda do sofá ao tentar chegar á janela que dava para o restaurante...

Muita tinta correu sobre a excassez de lágrimas desta senhora, sobre a sua aparente frieza. Não creio que isso seja relevante. O coração dela vai chorar o que fez e o que deixou de fazer e devia ter feito até ao último dia da vida dela.

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