*Tatibitati!



«(...)De forma bastante peculiar e especial, a mãe
tende a usar uma intensidade de voz mais alta do
que a que usa geralmente, exagerando na inflexão vocal, usando frases pequenas e simplificadas; a voz da mãe possui uma musicalidade significativa para o seu bebê. A importância dessa fala está na manutenção da atenção e na construção do vínculo afetivo. (...) Ao que parece, o principal elemento a ser considerado no maternalês é a relação afetiva estabelecida, como Brown (apud Elliot, 1982) relata: “inspiram afeição, ternura e intimidade”. Provavelmente, essa relação afetiva enseja desejo, na criança, de participação no diálogo.(...)
O maternalês constrói um espaço na interação onde são permitidas e valorizadas as trocas afetivas, tão importantes para o desenvolvimento da criança. Nessa relação de afeto, é possível perceber como a mãe facilita e possibilita à criança a continuidade no diálogo, conduzindo e estruturando sua fala. Ou seja, o maternalês apresenta características lingüísticas que provocam as construções da criança e características paralingüísticas que mostram estados emocionais acolhedores para que a criança se sinta envolvida com a fala da mãe (...)»
in, Distúrbios da Comunicação, São Paulo, 18(2): 201-208, agosto, 2006,
Eliane V. Dadalto, Marcia Goldfeld
*Tatibitati é uma outra forma de designar o maternalês.
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Pois é, descobri que agora falo 3 línguas: português, inglês e maternalês!!! Curioso... ainda há pouco dias me havia questionado sobre porque raio é que quando falo para ti (sobretudo se te estiver a orientar no sentido de que faças alguma coisa) o meu tom de voz eleva-se automáticamente (como se fosses surda, ou assim... hihihi!) e a língua enrola-se para dizer algumas palavras e invento coisas estapafúrdias como peixinho do mar para me referir a um simples bocado de peixe que está no teu prato á espera de ser comido... do mar... já se sabe que é do mar... aliás até pode ser do rio! Eu cá nem pesco nada disso, calha bem!
Sim, tinha de ter uma explicação... só não sei muito bem quando e onde tirei o curso de maternalês... só sei é que falo essa língua desde que nasceste!!!
Mas, pelos vistos ainda bem que é assim. Aliás, sempre falei imenso para ti, desde os primeiros dias. E olha que não falo sempre em maternalês. Sempre procurei explicar-te tudo como se pudesses compreender, desde os primeiros dias: se estava a mudar-te uma fralda relatava-te os passos todos (agora vamos tirar isto, despir aquilo, por o creme...); se choravas de contrariedade explicava-te o porquê de teres de ser contrariada (sempre reforçando que compreendia as tuas razões...); se queria que adormecesses explicava que é necessário e agradável dormir (mesmo enquanto berravas furiosa...); se estavas na espreguiçadeira enquanto fazia qualquer coisa, dizia-te o que estava a fazer. Enfim, foi um hábito que criei e que sempre achei benéfico. Sabia (e sei) que estimula o desenvolvimento da linguagem e da compreensão nos bébés e que, mais tarde, poderá ter reflexos positivos.
Agora, de facto, sempre conciliei o maternalês com o português correcto e cada vez mais tenho dificuldade (porque cada vez te pressinto menos bébé e mais criança...) em explicar-te as minhas razões quando fazes uma birrinha qualquer sem usar um vocabulário complexo, corrente. Acho que, instintivamente, guardo o maternalês para ocasiões em que pretendo que sintas confiança, ternura, carinho, afecto. O maternalês vem sempre com beijinhos e abraços e sorrisos e brincadeiras e olhares cheios de cumplicidade.
Não substimo, nem nunca substimarei o poder da linguagem: seja a linguagem dos afectos ou a da pura e simples comunicação!
Oh, sexta-feira: estou desejosa de tatibitatiar contigo!!!

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